Ao contrário de muitos jovens da sua idade, Iris preferia passar os fins-de-semana a estudar do que ir até uma discoteca (ainda por cima ao domingo, à tarde, pensava ela..) ou dar um simples passeio até à cidade mais próxima da sua casa. Convites não faltavam mas quase sempre dizia que não...sentava-se na sua secretária e passava horas a fio a estudar em nome de mais um sonho...ou melhor vários...porque naquela altura estava dividida...arqueologia, professora de inglês e francês ou jornalista? Tinha muitas dúvidas, é verdade, mas sabia que até chegar à escolha final só lhe restava lutar por obter as melhoras notas e conseguiu...no 10.º ano de escolaridade, ainda por cima a estrear uma escola novinha em folha, foi a melhor aluna no final do ano lectivo com média de 17 valores...Só que azar dos azares como morava num outro concelho não recebeu o prémio de mérito escolar...ficou tão revoltada na altura...mas nada havia a fazer a não ser olhar para o papel afixado na secretaria da escola!
Chegada a altura dos exames nacionais, e sem nunca ter reprovado um ano, estava decidida a tornar-se arqueóloga porque sempre se sentiu encantada por história, aliás era das melhores alunas da turma, com média de 20 valores. Mas o exame nacional correu-lhe mal, foi tramada pelos nervos e esqueceu-se de responder a uma pergunta...resultado: teve 14 valores. Ficou frustrada e mais ainda quando a sua professora de História a desaconselhou a seguir arqueologia porque dizia ela que era uma área que não tinha saída em Portugal. Ohhhh e agora? O que vou fazer? Optou pelas outras duas escolhas que tinha em mãos...candidatou-se ao Ensino Público e entrou na Faculdade de Letras do Porto em Línguas e Literatura Moderna, variante de estudos franceses e ingleses...e em simultâneo também concorreu à Escola Superior de Jornalismo, no Porto, mas privada, e entrou em Comunicação Social. Na hora de decidir, ponderou os pós e contras e optou pela última saída profissional: queria ser jornalista!
Ao entrar na faculdade a sua vida mudou de repente: passou a acordar todos os dias às 5 horas da madrugada para apanhar o primeiro comboio do dia rumo ao Porto...depois ainda tinha de apanhar um autocarro para a faculdade! Chegava a casa às tantas da noite, completamente esgotada, e ainda mais ficou, quando no segundo ano do curso se tornou trabalhadora-estudante...mas valia a pena...porque assim já estava a colocar em pratica tudo o que ia aprendendo e, depois, também começou a ganhar o seu próprio dinheiro em nome da sua independência e também para aliviar um pouco os gastos que os pais tinham com ele...Só de propinas era uma monstruosidade, já para não falar dos livros que tinham de ser comprados, das resmas de fotocópias de livros para estudar, da alimentação fora de casa, dos transportes, e por aí fora! Não foi fácil conciliar os estudos com um emprego (por sorte na sua área) mas lá conseguiu terminar o curso durante quatro anos sem deixar nenhuma cadeira para trás! Foi nessa altura, por volta dos 19 anos, que conheceu um rapaz numa paragem de autocarro que estudava bem perto da sua faculdade mas numa Escola Secundária...pensou ela: "Uiiii mas este rapaz deve ser um chavalo...ainda anda no secundário..."...mas não...tinha reprovado três anos e andava a terminar o 12.º ano.
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