Hoje vou falar-vos de um tema muito sensível para mim e que afecta milhares de portugueses, com tendência para se agravar dada a situação catastrófica do país: a ansiedade. Sim, para quem não sabe, esta é uma doença muito complicada, e só quem passa por ela é que sabe verdadeiramente o quão difícil é lidar com este mal que traz consigo, entre outras coisas, os ataques de pânico, que podem ocorrer a qualquer momento e em qualquer lugar.
Infelizmente eu também faço parte das estatísticas porque há mais de sete anos que luto contra uma depressão (provocada por um grave problema pessoal, já ultrapassado), que despoletou toda a ansiedade natural que já havia em mim.
Sou uma pessoa muito nervosa e ansiosa, a palavra que mais detesto é "esperar", quero tudo feito para ontem mas sei que a vida não pode ser assim. Antes de consultar um médico particular (no público nunca conseguiram detectar o meu problema) eu não sabia o que se passava comigo: além de ter perdido imenso peso (mais de 10 kg) e dos ataques de choro constantes (que eu mantinha em segredo para não perturbar os meus), o pior eram mesmo as noites mal dormidas. Ficava com um aperto tão grande, mas tão grande no peito que pensava que se me deitasse na cama iria morrer (estou mesmo a falar a sério). À conta disto a única forma de eu conseguir fechar um pouco os olhos era sentar-me na cama, encostada à almofada. Também me davam ataques quando ia a conduzir: tinha de parar o carro, sair cá para fora, apanhar ar e respirar fundo. Sentia-me muito mal no meio da multidão e quase cheguei ao ponto de não conseguir sair de casa, a não ser para ir trabalhar.
Vivi assim durante meses e não contei nada a ninguém. Guardava tudo para mim e aí é que estava o maior problema. Até que um dia acordei e sem conseguir aguentar mais fui ter com a minha mãe e desatei num pranto. Chorei, chorei, chorei quase até ficar sem lágrimas. Nesse mesmo dia, e como a minha mãe, já estava a ser seguida no privado, ligou para o psicólogo e ele disse-me para aparecer no consultório na segunda-feira...e entretanto disse à minha mãe para me dar um calmante, neste caso o Victan. Senti logo os efeitos, fiquei mais tranquila e a contar as horas para ir ao médico.
Quando cheguei ao consultório não precisei de dizer nada. Olhou para mim e disse-me tudo aquilo que eu sentia cá dentro e não conseguia verbalizar. Falou comigo durante mais de uma hora, eu falei com ele, tivemos uma conversa tão boa que penso que naquele dia começou uma nova vida para mim.
Mandou-me fazer exames médicos de rotina (estava tudo bem) e, entretanto, receitou-me logo a Fluoxetina, que ainda hoje tomo diariamente logo pela manhã, porque como ainda era nova não queria que o meu corpo se habituasse a anti-depressivos fortes. O que é certo é que este medicamento, combinado com o Victan, foram a minha salvação, mas também precisei de muita força interior e apoio.
Nesse mesmo dia o médico deu preciosos conselhos que vou partilhar convosco, no que respeita à nossa forma de encarar a vida e também relacionadas com a alimentação:
- Nunca deixem nada por dizer. Deixem-se falar a vossa voz interior. Quer concordem ou não com determinada situação deitem tudo cá para fora. O pior que podemos fazer é guardar cá dentro mágoas e revoltas, porque vão-nos consumindo por dentro. Não tenham medo de dar a vossa opinião.
- Apreciem as coisas simples da vida, que são as mais importantes. Amem e deixem-se ser amadas por quem merece e vale a pena.
- Livrem-se de pessoas e pensamentos negativos. Rodeiem-se de tudo aquilo que vos faz sentir bem como ir até uma esplanada, passear por um parque, apanhar ar fresco, estar em contacto com a natureza, apreciar o por-do-sol, fazer uma caminhada, ouvir música, praticar desporto, ler.
- Tentem sorrir o mais possível. O riso é o mesmo o melhor remédio para tudo.
- Risquem da vossa alimentação o chã verde, o Ice Tea, o Red Bull, porque na sua composição possuem ingredientes que só aumentam ainda mais a ansiedade.
- Podem tomar dois ou três cafés por dia sem qualquer problema e comer chocolate sempre que vos apetecer.
- Se são fumadora(o)s quando estão a combater uma depressão essa não é a melhor altura para largar o cigarro. Deixem essa luta para mais tarde. Um passo de cada vez.
- Tenham um animal em casa. Além de ser uma excelente companhia ajuda, e muito, a aumentar a sensação de bem-estar. Não é à toa que se diz que "os animais são os nossos melhores amigos".
- Nos vossos tempos livres aproveitem para fazer algo que gostem, como, por exemplo, escrever, pintar, desenhar, fazer trabalhos manuais, fotografar.
E, lembrem-se esta é uma luta constante, diária. Temos que ter uma força brutal porque teremos sempre dias bons e menos bons. A medicação e a alimentação mais regrada ajudam mas também temos de ser nós a ter a determinação e coragem para ultrapassar este mal que se tem espalhado pela sociedade, motivo pelo qual a venda de anti-depressivos quase que triplicou só neste primeiro semestre do ano.
Espero que com este meu testemunho vos tenha ajudado de qualquer forma e se precisarem de algum conselho ou tiverem qualquer dúvida não hesitem em falar comigo. Podem deixar aqui mensagem ou enviar email para susana.silva.cardoso@gmail.com
Beijinhos da Su,
e muita força e coragem
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